
O argumento é sempre o mesmo, reciclado há séculos, como se fosse uma descoberta genial de última hora: “Se rezar funcionasse, os hospitais já estariam vazios”. A frase é dita com ares de sofisticação, como se fosse a pedra angular do pensamento moderno, quando na realidade não passa de uma caricatura infantil do que seja a fé. Esse tipo de argumento não refuta a oração, apenas expõe a superficialidade intelectual de quem o repete. Afinal, se a oração fosse apenas um expediente para exigir de Deus a imediata anulação do sofrimento, bastaria concluir que a Igreja jamais teria erguido hospitais ou orfanatos – e, no entanto, foi exatamente a fé cristã que ergueu os maiores centros de caridade da história.
Mas a questão merece um exame mais aprofundado, pois não se trata apenas de uma falha lógica no argumento, mas de uma cegueira deliberada diante do papel da oração na experiência humana.
O Grande Erro: Confundir Deus com um Gênio da Lâmpada
O primeiro equívoco cometido pelos críticos da oração é a noção absurda de que rezar significa ordenar a Deus que atenda a caprichos individuais. Essa visão rasteira não é apenas uma distorção da teologia cristã, mas um reflexo da mentalidade moderna, que vê tudo sob a ótica da transação comercial: “Eu dou algo, eu exijo algo em troca”. Na tradição cristã, no entanto, a oração não é um mecanismo de barganha, mas um meio de participação na ordem divina. Como explica Santo Agostinho: “A oração não é feita para informar a Deus do que precisamos, mas para nos tornarmos dignos de receber o que Ele nos quer dar”.
A oração, portanto, não se trata de uma tentativa de submeter Deus à vontade humana, mas de conformar a alma à Sua vontade. É por isso que Cristo ensina: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6,10). A ideia de que a oração deveria funcionar como um “sistema de atendimento automático” onde cada súplica recebe uma resposta instantânea revela uma ignorância tão profunda quanto ridícula.
O Que Diz a Ciência?
Mas deixemos um pouco a teologia de lado e voltemos os olhos para a ciência – já que, para alguns, nada existe a menos que seja validado por um laboratório. A neurociência há tempos comprova que a oração tem efeitos mensuráveis no cérebro. Um estudo conduzido pela Universidade de Harvard demonstrou que práticas espirituais regulares reduzem significativamente os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, além de promoverem maior conectividade entre regiões cerebrais responsáveis pelo bem-estar emocional.
Outro estudo, publicado no Journal of Behavioral Medicine, analisou os efeitos da oração intercessória (quando alguém reza por outra pessoa) em pacientes hospitalizados. Os resultados mostraram que os grupos pelos quais se orava apresentavam uma recuperação mais rápida e índices mais baixos de complicações. Evidentemente, isso não significa que rezar substitua um tratamento médico – apenas que a espiritualidade exerce uma influência real sobre o organismo humano.
Se a oração fosse de fato um exercício inútil, como dizem seus críticos, então o cérebro humano não teria desenvolvido respostas tão profundas a ela. A própria neurologia desmente aqueles que insistem na ideia de que rezar “não faz nada”.
A História Fala por Si
Se a oração fosse uma ilusão, seria razoável esperar que as sociedades mais religiosas tivessem contribuído pouco para a humanidade. Mas a realidade é o oposto: foram os cristãos que ergueram as universidades, os hospitais e as maiores redes de assistência social da história.
Nos séculos IV e V, os cristãos fundaram os primeiros hospitais públicos no Império Romano, sob a liderança de São Basílio Magno. A Idade Média, frequentemente vilipendiada por quem só conhece história por memes de internet, viu a ascensão das ordens religiosas que dedicaram suas vidas à medicina e à caridade, como os beneditinos e os hospitalários. Já no século XIX, figuras como São João Bosco e Santa Teresa de Calcutá demonstraram como a fé e a oração podem inspirar obras concretas de amor ao próximo.
Agora, compare-se esse legado ao das filosofias materialistas e niilistas. Quantos hospitais foram erguidos em nome do ateísmo? Quantos orfanatos foram fundados por aqueles que desprezam a oração? O silêncio como resposta já diz tudo.
O Desespero dos Críticos
A rejeição da oração não é fruto de uma análise racional, mas de um ressentimento profundo contra a própria ideia de transcendência. Para os materialistas, admitir que a oração tem um efeito real, seja psicológico, social ou até mesmo espiritual, significaria reconhecer que há algo além da matéria bruta – e essa é uma verdade que eles não estão dispostos a aceitar.
A zombaria contra a oração é, no fundo, um sintoma de desespero. Incapazes de oferecer um sentido maior para a vida, esses críticos preferem ridicularizar aqueles que encontraram uma fonte de significado. Mas a história já os desmentiu. A ciência já os desmentiu. E, acima de tudo, a experiência humana os desmente todos os dias.
A oração não é um truque de mágica, mas uma realidade tão antiga quanto a própria humanidade. Os que insistem em negá-la estão apenas confirmando aquilo que Dostoiévski já sabia há muito tempo: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. E quando tudo é permitido, resta apenas o vazio.